Amigos, o mercado de trabalho está mudando e algumas empresas com olhar mais inovador – como Nubank e GE – estão promovendo uma forma específica de recrutamento de talentos: a seleção às cegas.
Funciona assim: as empresas utilizam plataformas de vagas que apresentam critérios de seleção sem informações que possam caracterizar discriminação. Ou seja, a plataforma apresenta para os recrutadores os candidatos mais adequados de acordo com o seu currículo. Dados como gênero, idade, estado civil e etnia só aparecem ao final do processo. Para o mercado de trabalho, o resultado tem sido um sucesso, mas já imaginaram aplicar esse método nas instituições de ensino.
Foi o que aconteceu na École Normale Supérieur de Paris, que costumava selecionar seus alunos em provas orais, mas, por conta da pandemia de covid-19, se obrigou a realizar as avaliações por escrito. O resultado? Este ano, 67% dos candidatos admitidos foram mulheres – contra a média de 54% dos cinco anos anteriores. Se formos considerar apenas a área “letras e artes”, o salto foi de 59 % nos últimos cinco anos a 78 % em 2020!
A situação se repetiu na unidade de Lyon: na área “letras e artes”, 71% dos aprovados eram mulheres, contra 60% do ano passado. Para o jornal Les Echos, olhando para esses números é fácil concluir que a prova oral é um fator de discriminação de gênero. Em entrevista ao veículo, o filósofo Frédéric Worms, diretor-adjunto de Letras, respondeu: “Evidentemente, esse assunto é muito importante e vamos olhar de perto esses números para entender o que explica a singularidade do concurso desse ano”.
Jeanne Boisselier, doutora em psicologia social e do trabalho, especializada em discriminação e estereótipos no emprego, não tem dúvida que a seleção às cegas é mais justa. Segundo ela, em uma prova o oral, o avaliador tem pouco tempo para entender quem é e quais conhecimentos domina o candidato. “Esse tipo de situação abre a porta para o uso de estereótipos, que ajudam a explicar seus comportamentos. E eles funcionam como uma leitura subjacente, não necessariamente consciente ou voluntária”, diz. “A questão é que competência, ambição, expertise, meticulosidade e perseverança são características mais relacionadas ao estereótipo masculino”.
No mínimo é algo a se pensar, não, amigos?