• Papo Reto

Entrevista sobre adoção com Cleusa Ranieri

Amigos, eu fiquei emocionada nessa entrevista de hoje porque minha convidada é a escrivã aposentada Cleusa Ranieri, e nós trabalhamos muito juntas em lindas histórias de adoção – muitas delas eu conto aqui no meu livro “Primeira Chance”. Minha experiência à frente do Lar Mamma Emma, uma casa transitória que servia de abrigo para crianças retiradas de suas famílias por maus tratos, demandou muita dedicação e parceria com pessoas como a Cleusa.

O resultado? Encaminhamos para novas famílias centenas de crianças e, enquanto isso não aconteceu, cuidávamos de sua saúde e educação. Eu e a Cleusa não nos víamos há um tempo porque cada uma acabou seguindo seu caminho – hoje ela tem a loja JJ Fivelas, com peças para artesanato, no Brás, e a fábrica MC Acessórios de Moda, onde faz botões e placas metálicas para roupas. Mas nessa conversa falamos sobre memórias daqueles tempos e sobre a realidade da adoção no Brasil.

Para começar, quem tem interesse em adotar uma criança, precisa se cadastrar aqui, no Sistema Nacional de Adoção, e passar por um processo de habilitação, que envolve etapas como a entrega de documentos em um fórum com Vara de Família, entrevistas com assistentes sociais e psicólogas e grupos de apoio. Para poder entrar no Sistema Nacional de Adoção, a criança, por sua vez, precisa ser destituída do poder familiar. E tudo corre paralelamente, mas às vezes em um ritmo muito mais lento do que a gente gostaria. “Às vezes, os pais não têm condições de criar, mas às vezes têm uma avó, uma tia… então a assistente social e a psicóloga da Vara vão fazer um levantamento junto à família para verificar isso. E a criança acaba ficando internada aguardando esse processo”, explicou Cleusa.

Eu me lembro que os primeiros passos e palavras de muitas crianças aconteceram lá na nossa instituição. É triste. A boa notícia é que há muitos casais habilitados. A má é que o perfil preferido é por crianças pequenas e as maiores acabam ficando à espera de adoção até completarem 18 anos e saírem compulsoriamente dos orfanatos. “Eles ficam naquela ansiedade e alguns têm até medo de ser adotados e irem para o desconhecido. Mas muitos têm esse sonho e a gente tem que trabalhar essa aceitação na cabeça dos brasileiros”, disse.

Hoje, a Cleusa continua sendo procurada pelos meninos que foram adotados – grande parte fora do Brasil – e que estão felizes e realizados em suas famílias, mas desejam conhecer suas origens aqui no Brasil. Ela me contou que hoje, olhando para trás, tem certeza de que eles tiveram o melhor destino possível.

 

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Silvana Tinelli

Por:Silvana Tinelli

Nascida no Egito, mas com o coração dividido entre a Itália e o Brasil, Silvana Tinelli faz de tudo um pouco. Em sua rotina dinâmica, Silvana se divide entre suas paixões: a arte, a criação de suas cerâmicas, as viagens - com segredos que só ela conhece - os eventos com seus amigos, a fotografia e a gastronomia.